História dos Kanoé antes do contato

Data da Publicação: 29/03/2022


História dos Kanoé antes do contato

 

Gravação feita por Laércio Nora Bacelar. Transcrição Laércio Nora Bacelar. Disponibilizado para o acervo do povo Kanoé no Site Memórias Indígenas em Rondônia e Noroeste de Mato Grosso por Fernando Kanoé.



Certo dia, todos os homens (dos velhos aos adolescentes) saíram em busca de outras tribos, deixando para trás as mulheres e as crianças menores. Dias se passaram e os homens não voltaram. Após dias de incerteza, duas das mulheres decidiram empreender uma busca. Pouco tempo depois retornaram com noticias arrasadoras. Os homens tinham sido mortos.

Elas haviam encontrado os corpos dilacerados na floresta. As tarefas da tribo sempre foram divididas de maneira distintas entre os homens que caçavam, pescavam, criavam flechas e construíam malocas, já as mulheres mantinham as hortas de fava, cuidavam das crianças e se ocupavam de muitos dos afazeres da aldeia. Agora elas se sentiam sós, sem garantias de que pudessem sobreviver e por isso entraram em pânico. Colheram uma erva chamada timbó que produz uma seiva venenosa que os índios da Amazônia costumam bater nos igarapés para atacar os peixes. Desta maneira era mais fácil de pescar. Convencidas de que elas e seus filhos sofreriam e morreriam de qualquer jeito sem os homens, as mulheres prepararam um veneno de timbó e concordaram de cometer suicídio coletivo. As mulheres deram o veneno as crianças antes de tomarem. Tutuá no entanto disse que foi atormentada por outras ideias. Não deu veneno a Pura e a filha e fugiram. Ela mesma ingeriu pouco dele e se forçou a vomitar, lutando para reunir forças, recolheu os dois filhos e correu para a irmã e a sobrinha. Ajudou-as a vomitar o que tiveram que engolir e juntas saíram cambaleando de dentro da maloca. As duas mulheres adultas e as três crianças eram os únicos sobreviventes, disse Tutuá. Mas a irmã de Tutuá nunca mais foi a mesma depois do incidente. Sofria de alucinações e se recusava a acreditar que os homens da aldeia estavam de fato mortos.

Pouco tempo depois do suicido coletivo, a irmã de Tutuá fugiu para a floresta a procura dos homens, convencida de que eles estavam em algum lugar lá dentro. Ela nunca mais foi vista. Assim deixou Tutuá sozinha para criar os dois filhos e a sobrinha, Ouaimara.

Tutuá disse que mais de vinte anos antes, na década de 1970, os Kanoé consistiam em cerca de cinquenta pessoas, a maioria mulheres. Os homens Kanoé vinham tentando alcançar outras etnias isolados na área para negociar mantimentos, esperando criar uma espécie de parceria para matrimônios, esperando criar uma espécie de parceria para manter sua linhagem viva ao menos por mais algumas gerações.

Agora, sozinha Tutuá lutará para desempenhar papel de mãe e de pai das crianças. Disse que fazia o melhor que podia para ensinar a cada uma delas como lidar não só com as tarefas tradicionalmente desempenhadas pelas mulheres, mas também as que tinham sido incumbidas aos homens da aldeia. Tentou preservar o máximo que pode da cultura Kanoé, ensinando as crianças as canções que a tribo cantava durante as frequentes cerimonias, monísticas e etc.

 

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