Casamento e Maternidade na Cultura Karitiana

Data da Publicação: 09/04/2022


 

Casamento e Maternidade na Cultura Karitiana

 

LAURA DE OLIVEIRA KARITIANA

 

Tradição

 

O pai da moça que escolhe o rapaz para casar com sua filha,  antigamente a menina quando nascia o pai já prometia ela em casamento, e quando a menina chegava a idade de 10 anos os pais faziam seu noivado ou já escolhiam o rapaz para moça, o menino mais popular era o que era melhor caçador.

Os meninos se formavam por volta dos 9 anos de idade, antigamente havia um tipo de curso onde o sabedor da comunidade reunia uma quantidade de mais ou menos de 25 a 30 meninos com essa fase etaria, os garotos eram levados para o mato onde lá aprendiam as técnicas de caça e conhecer a mata, saber andar nela para não se perderem e a sobreviver caso aconteça de ficarem perdidos, lá eles aprendiam sobre plantas medicinais e plantas mortais, conheciam raízes, árvores, folhas, aprendiam sobre espiritualidade  e sinais da floresta. Os meninos durante os 60 dias que ficavam no mato só podiam ter contato com o sabedor, durante todo esse período os rapazes não poderiam ter contato com outras pessoas da aldeia, em um dia e hora específica as mães preparavam alimentos específicos e deixavam preparados para os jovens mas não podiam tem contato e pra finaliza o ensinamento o último dia de curso os meninos se preparavam para caça e assim  mostra suas habilidades então o sabedor dava a ordem de todos saírem para caça e os primeiros que retorna-se com a caça seria nas ordem 1° lugar,2° lugar, 3° lugar, assim suscetivamente, então para os pais das moças na aldeia esses erram os meninos mas visados por eles, pois seriam ótimos partidos para suas filhas.

Após a escolha do rapaz, o pai da jovem vai até a casa da família conversar com pai do menino, quando tem o acordo inicia a preparação do casal. Lembrando que o novo casal não tem direito a escolha, os pais decidem com quem vão se casar eles tem que obedecer, assim é a cultura. A menina e o menino precisam ser virgem isso e prioridade.

A partir desse momento a moça precisa oferecer chicha, carne de caça pronta, pamonha para o rapaz, assim eles ficaram cientes que são noivos um do outro, a mãe da moça começa a ensina- la a fazer  Obi(cesto grande) para colocar  carne de caça no dia do casamento, precisa aprender a fazer chicha de milho, (siit)pamonha, e durante todo o noivado o rapaz sempre que caça tem que leva para sua noiva.

A presença dos pais dos noivos no dia do casamento é muito importante, sem a presença deles não pode ter casamento.



Cerimônia de  Casamento Tradicional



Os homens da família saem pra caça e as mulheres saem pra buscar milho e logo começa prepara chicha e pamonha para os convidados, a noiva e preparada com pintura corporal e coloca seus artesanatos mais bonitos no início da noite com todos presentes inicia a cerimônia de casamento onde a noiva e conduzindo pelo pai e pela mãe e junto com eles outros familiares da noiva acompanhar levando o Obi(Cesto grande) caça e a mãe vai levando a rede da noiva, juntos caminham em direção a casa do seu noivo que já está a sua espera deitado na rede. Todo trajeto e feito com muita cantoria, são entoadas músicas Karitiana em celebração a cerimônia. Chegando na casa do rapaz o pai da noiva diz umas palavras na língua Karitiana entregando sua filha para o jovem noivo, em seguida os pais da noiva começa amarrar a rede da noiva ao lado da rede de seu noivo em seguida a noiva deita na rede dela, então o pajem aconselha o noivo dizendo que ele tem que ser um bom marido e em seguida aconselha a noiva a ser uma boa esposa, depois o cacique também aconselha, depois os pais da noiva, do noivo, os tios e tias dos noivos, irmãos mais velhos. Ao encerrarem os aconselhamento todos vão para o jantar coletivo regado de muita chicha, músicas e danças.

Apartir desse momento quando já estão oficinalmente casados a Mulher(Noiva) passa a pertencer a família do Marido sendo assim passando a obedecer a sogra e sogro.

 

Maternidade na Cultura Karitiana

 

Após o casamento a família espera logo a notícia de um bebê mas quando a mulher tem dificuldade de engravidar tem outra forma de ter um bebê, e neste caso a recorre ao remédio tradicional Gopeketek (dia em que para sempre se tem filho), ressaltando que esse remédio são cogitados somente se a mulher tiver dificuldades de engravidar.

A gravidez algumas vezes não é bem recebida pelas mulheres, principalmente por mulheres que tiveram um parto difícil ou mulheres com mais idade pois o medo é sempre o mesmo o sofrimento na hora do parto para isso as mulheres recorrem a outro remédio do mato que só é passado por mulheres mais velhas e sobre prescrição, o remédio do mato é muito eficaz, uma vez consumido a mulher ficará estéril e nunca mais poderá engravidar, quando na nossa família uma mulher tem dificuldade de engravidar a família suspeita logo que deram esse remédio escondido pra ela.

A gestação da mulher karitiana é um momento importante e respeitado por toda a comunidade durante a gestação o casal precisa passar por alguns cuidados em principal a gestante, pois a responsabilidade do bem-estar e saúde da criança (Õwã)  fica toda sobre a mulher.

A grávida precisa evitar alimentos e atividades neste período que o bebê está em formação e para ter um bom parto.

 Alguns peixes proibidos como o Okorong por viver no oco da pedra, não permite a criança aprender a andar, Jikyket e Tiju pequeno, que faz envelhecer rápido, peixe piranha e peixe cachorro, que provocam coceira e feridas na boca e na pele. O veado roxo, o jacu os peixes Jacundá e Piau os karitiana  acreditam que se esses alimentos forem ingeridos pela gestante o bebê pode nascer Popopo (louco), o jacaré é vagaroso, o quati, agitado. Como diz os karitiana isso tudo é para que a criança não queira ficar para sempre dentro da barriga da mãe a mulher também não pode comer macaco soin e quati ou ficarem agarrado em árvore, tatu que vive em um buraco, Tucumã e pupunha pois são pegajosos a mulher também deve acordar cedo antes das 6 horas da manhã para que a criança não nasça preguiçosa a mulher assim como homem deixam de fazer algumas atividades que envolvem pregar e amarrar coisas por isso a mulher deixa de fazer artesanatos e o homem não pode fazer artesanatos e outras reformas dentro da sua casa durante toda a gestação da esposa. Tudo isso é para que não aconteça nenhum acidente ou doença que prejudique a vinda desse bebê e caso contrário tudo isso seja cumprido pelos pais e ocorra doença ou acidente eles acreditam  que ocorreu feitiçaria. 

No último mês da gravidez uma mulher mais velha geralmente é a mãe ou sogra passa na barriga da grávida Muçum, jiju ou o rabo de um poraquê, todos são lisos para fazer o bebê nascer rápido, a mulher também passa remédio do mato Go'yryt (dia chegar) e Gokyra (dia liso). Hoje em dia as mulheres optaram a terem seus filhos em hospital na cidade de Porto velho pois assim são garantidos todo e qualquer suporte médico para qualquer eventualidade negativa na hora do parto.  Minha mãe Marli teve um parto na aldeia Kyowã na terra indígena karitiana, relatou que na hora do parto a gestante fica na posição de cócora e segurando um tronco no chão, essa foi a experiência dela dando a luz conforme a Cultura Karitiana. Hoje as mulheres não tem mas seus bebês na aldeia e sim todos no hospital.

O cordão umbilical era cortado com Taboca ou uma Taquara e durante todo o trabalho de parto a parteira canta o canto Õwã atyp (você encontra criança) e a parteira ou a primeira pessoa que pegar a criança se torna Am'et (madrinha).

A placenta e o cordão umbilical eram depositados em uma árvore com espinho como Tucumã, marajás, limoeiros, laranjeiros, pois os espinhos protegeram dos animais e dos espíritos que queiram levar o bebê para o mundo dos mortos o mesmo são feito com os itens da mãe e do bebê como por exemplo fralda descartáveis papel higiênico ou quaisquer outro item corporal usados pelo bebê ou pela mãe, assim tem que ser feito até o desmame da criança.

Até os 15 dias de nascimento o bebê deve tomar banho cedo antes do sol nascer com remédio do mato chamado Gopatoma, acreditamos que nesse início de vida o bebê e a mãe estão frágeis exposto a qualquer espírito mau ou coisas ruins que podem acontecer a eles por isso o banho do Gopatoma é uma forma de proteger los de todo o mau, o banho de Gopatoma não é específico para recém-nascido ele também é feito sempre que a pessoa achar necessário pode ser feito em crianças pode ser feito por adultos não importa a idade.

Após o nascimento do seu bebê a mãe e o pai continuo com regime na alimentação podendo comer somente caça pequena e caldo de aves o pai e a mãe não podem fazer esforço físicos e devem acordar cedo antes do sol nascer Durante os próximos 45 dias que é o resguardo, o bebê só pode tomar banho com água enquanto ele estiver fazendo uso do remédio Gopatoma não pode usar sabonete, shampoo, talco, perfume, ou qualquer tipo de produto de higiene durante esses dias que o bebê estiver sobre o uso do remédio do mato a mulher que tiver tido relação sexual recentemente ou estiver menstruada não podem pegar o bebê no colo pois a pessoa que pegar o bebê fará com que ele a doença.

A mãe não pode comer nada que tenha óleo, só pode comer carne assada ou cozida nada de óleo não pode não pode beber água só pode tomar chicha não pode mexer com urucum, o alimento da mãe é feito separado das outras pessoas da casa pois tudo não pode conter óleo para não quebrar o ritual e a criança não adoecer.

Após os 45 dias de nascido onde chega o final do resguardo neste momento o bebê e a mãe já estão mais forte espiritualmente a partir deste momento os pais continuo com o banho de gopatoma mas não precisa ser mais especificamente antes do nascer do sol pode ser feito também outros horários pois já se passaram o tempo de resguardo então já podem comer carne de porco mas antes deles comerem eles pegam um pedaço na mão passam em volta da cabeça fazendo um movimento circular passam na sua boca e depois passam na boca da criança e dizem para criança eu vou comer porco e não é para você ficar doente, assim  os pais pedem permissão para criança para comer aquele alimento após esse ritual o alimento pode ser consulmido com segurança.

Com no mínimo 6 meses inicia o desmame do bebê O ritual é feito primeiramente com o pai indo a procura de árvore de Paxiúba ou Tucumã precisa ser bem longe de forma que ninguém encontre o local antes ou depois, assim que encontram o local o homem faz uma tocaia e dentro uma cama com as folhas de Gopyhck, Goyra, Hioop, Gokypa. Após deixar o local preparado o homem retorna para casa e no outro dia ele retorna com a mulher e a criança, ninguém pode saber o que está sendo feito no local, a mulher deita na cama feita com as folhas e a criança e posta deitada encima do peito da mãe, o casal então mantém relação sexual e eles estiverem saindo da tocaia com a criança o pai imita o som de Nambu Preto, para criança fica sempre saudável. Assim eles retornam para aldeia com seu bebê ao chegar nas proximidades da Aldeia eles não podem ser visto por ninguém exatamente ninguém só então que eles terem certeza que podem chegar em sua casa sem serem visto, eles saem correndo o mais rápido possível até a sua casa, se o casal for visto por alguém mesmo que eles não saiba sobre o ritual de desmame que acabou de ser feito por o bebê corre um enorme risco de adoecer e morrer, o desmame para nós é uma parte muito perigosa pois isso realmente acontece não podemos ser visto por ninguém hoje na nossa cultura não é todos os pais e mãe que cumprem esse ritual alguns optam por não fazê-lo por medo.



Nascimento Nataly Karitiana/Maternidade Municipal de Porto Velho, Foto: Laura Karitiana/2021.

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Luna Karitiana sendo banhada pela mãe, avó e bisavô com remédio tradicional as 6 horas da manhã. Foto Jéssica Karitiana/ 2021

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Banho em outro horário

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Foto: Jéssica Karitiana/2016

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Agradecimentos:

Esta pesquisa contou com apoio do senhor Antenor Karitiana, morador da aldeia Central Karitiana, fez a tradução dos nomes na linguagem Karitiana, Jéssica Karitiana contribuiu com fotos de sua filha e algumas informações sobre o uso e horário do banho Gopatoma, Marli de Oliveira Karitiana contou sua experiência do parto na cultura Karitiana.



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