Data da Publicação: 05/07/2022
O MENINO BUCHUDO
Narrador: Anísio Aruá
Entrevistador: Maicon Aruá
Pois é assim: tinha um menino um buchudo, o pai dele e a mãe dele morreu, ele estava jogado, lá no canto da Maloca, ele atou a rede dele e ficou lá. A rede dele toda rasgada, ele deitava e caia, mas ajeitava e assim passava, passava, passava. Até que ele ia para a roça, pegar macaxeira, cará, batata. Ele trazia, chegava e fazia um foguinho, aí quando estava assando ai vinha outros meninos e chutava a lenha dele, chutava o fogo dele, e apagava o fogo dele. Aí ele chorava, aquele que estava meio assadinho ele comia assim mesmo, porque ninguém dava nada para ele, nem comida, nem nada, ele se virando assim mesmo. Até que - não sei quem é que fez isso com ele, eu acho que foi Deus - que fez isso com ele. Aí começou a chover, começou a chover, chover, chover, chover, chover e a chuva não parava, a chuva não parava, a chuva não parava, até que alagou a maloca. Alagou a maloca mas ficou só no cantinho dele estava seco, aí ele estava lá ditadinho, triste e o pessoal todo agoniado lá.
- Como é que ele está lá no seco e nós aqui tendo que subir as coisas lá para cima, é água, é água, é água. Até que um falou:
- Rapaz, eu acho que é ele que está fazendo, ele que está fazendo, porque olha lá no lugar dele está seco, o foguinho dele está lá aceso, e porque aqui em nós está alagando. Vamos conversar com ele, aí foram lá e conversaram com ele. Disse que não:
- Não estou fazendo nada. Eu não sei, não sei fazer nada não!
Lutaram, pelejaram pra ele falar, mas ele não falava nada não, até que alagou tudo. Todos estavam chorando, então um cacique veio e disse assim:
- Vamos dar comida para ele, ele mesmo que está. Aí pegaram uma cesta e colocou cará cozido, carne cozida e assado, macaxeira, aí levou pra ele: Come aí! Aí ele disse:
- Está bom, vou comer! Aí ele começou a comer, começou a comer, começou a comer. Quando foi começando a comer, o rio já foi, a água já foi baixando. Aí falaram:
- É ele que está fazendo, é ele que está fazendo, vamos dar mulher para ele, aí ataram uma rede grande para ele e deram três mulheres para ele.
- Vamos dar três mulher pra ele!
- Pra que que eu quero mulher, não quero mulher não!
- Você precisa ter mulher, hoje em dia você vai ser o nosso chefe, você vai ser o nosso chefe, nosso chefe! Deitaram ele, ele já tinha comido, deitaram ele aí o rio secou, secou tudo. Aí acreditaram nele! Assim foi!
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